sábado, 27 de fevereiro de 2010

A Sociedade Mundial da Cegueira

Leonardo Boff *

O poeta Affonso Romano de Sant'Ana e o prêmio Nobel de literatura, o português José Saramago, fizeram da cegueira tema para críticas severas à sociedade atual, assentada sobre uma visão reducionista da realidade. Mostraram que há muitos presumidos videntes que são cegos e poucos cegos que são videntes.

Hoje propala-se pomposamente que vivemos sob a sociedade do conhecimento, uma espécie de nova era das luzes. Efetivamente assim é. Conhecemos cada vez mais sobre cada vez menos. O conhecimento especializado colonizou todas as áreas do saber. O saber de um ano é maior que todo saber acumulado dos últimos 40 mil anos. Se por um lado isso traz inegáveis benefícios, por outro, nos faz ignorantes sobre tantas dimensões, colocando-nos escamas sobre os olhos e assim impedindo-nos de ver a totalidade.O que está em jogo hoje é a totalidade do destino humano e o futuro da biosfera. Objetivamente estamos pavimentando uma estrada que nos poderá conduzir ao abismo. Por que este fato brutal não está sendo visto pela maioria dos especialistas nem dos chefes de Estado nem da grande mídia que pretende projetar os cenários possíveis do futuro? Simplesmente porque, majoritariamente, se encontram enclausurados em seus saberes específicos nos quais são muito competentes mas que, por isso mesmo, se fazem cegos para os gritantes problemas globais.

Quais dos grandes centros de análise mundial dos anos 60 previram a mudança climática dos anos 90? Que analistas econômicos com prêmio Nobel, anteviram a crise econômico-financeira que devastou os países centrais em 2008? Todos eram eminentes especialistas no seu campo limitado, mas idiotizados nas questões fundamentais. Geralmente é assim: só vemos o que entendemos. Como os especialistas entendem apenas a mínima parte que estudam, acabam vendo apenas esta mínima parte, ficando cegos para o todo. Mudar este tipo de saber cartesiano desmontaria hábitos científicos consagrados e toda uma visão de mundo.

É ilusória a independência dos territórios da física, da química, da biologia, da mecânica quântica e de outros. Todos os territórios e seus saberes são interdependentes, uma função do todo. Desta percepção nasceu a ciência do sistema Terra. Dela se derivou a teoria Gaia que não é tema da New Age; mas, resultado de minuciosa observação científica. Ela oferece a base para políticas globais de controle do aquecimento da Terra que, para sobreviver, tende a reduzir a biosfera e até o número dos organismos vivos, não excluídos os seres humanos.

Emblemática foi a COP-15 sobre as mudanças climáticas em Copenhague. Como a maioria na nossa cultura é refém do vezo da atomização dos saberes, o que predominou nos discursos dos chefes de Estado eram interesses parciais: taxas de carbono, níveis de aquecimento, cotas de investimento e outros dados parciais. A questão central era outra: que destino queremos para a totalidade que é a nossa Casa Comum? Que podemos fazer coletivamente para garantir as condições necessárias para Gaia continuar habitável por nós e por outros seres vivos?

Esses são problemas globais que transcendem nosso paradigma de conhecimento especializado. A vida não cabe numa fórmula, nem o cuidado numa equação de cálculo. Para captar esse todo precisa-se de uma leitura sistêmica junto com a razão cordial e compassiva, pois é esta razão que nos move à ação.

Temos que desenvolver urgentemente a capacidade de somar, de interagir, de religar, de repensar, de refazer o que foi desfeito e de inovar. Esse desafio se dirige a todos os especialistas para que se convençam de que a parte sem o todo não é parte. Da articulação de todos estes cacos de saber, redesenharemos o painel global da realidade a ser compreendida, amada e cuidada. Essa totalidade é o conteúdo principal da consciência planetária, esta sim, a era da luz maior que nos liberta da cegueira que nos aflige.

* Teólogo, filósofo e escritor

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Virá!


Um Índio
Doces Barbaros

Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante
De uma estrela que virá numa velocidade estonteante

E pousará no coração do hemisfério sul, na América, num claroinstante

Depois de exterminada a última nação indígena
E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida
Mais avançado que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias

Virá, impávido que nem Muhammed Ali, virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri, virá que eu vi
Tranqüilo e infalível como Bruce Lee, virá que eu vi
O axé do afoxé, filhos de Ghandi, virá

Um índio preservado em pleno corpo físico
Em todo sólido, todo gás e todo líquido
Em átomos, palavras, alma, cor, em gesto e cheiro
Em sombra, em luz, em som magnífico

Num ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico
Do objeto, sim, resplandecente descerá o índio
E as coisas que eu sei que ele dirá, fará, não sei dizer
Assim, de um modo explícito

Virá, impávido que nem Muhammed Ali, virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri, virá que eu vi
Tranqüilo e infalível como Bruce Lee, virá que eu vi
O axé do afoxé, filhos de Ghandi, virá

E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos, não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio


Video do show => http://www.youtube.com/watch?v=N8hpK0lq5gk

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Aldeia da Paz: Um Sonho Coletivo


A aldeia da paz é onde se torna possível
uma declaração de amor sincera
entre dois desconhecidos.

A aldeia da paz é onde a diversidade
é vista com encanto
e nos seus diversos olhares
nos apaixonamos.

Aldeia da paz é onde a possibilidade
se torna real
é onde a tentativa
de um outro mundo possível
acontece.

Durante os dias, com frequência, fugimos de nossos corações e foi na aldeia onde mais de cem corações pararam de fugir e resolveram se encontrar!
As palavras não são capazes de explicar o dia a dia do encontro, os cantos, as rodas, os rituais, as curas, o alimento, os olhares, tudo tão belo e magicamente inexplicável.

A aldeia da paz é o encontro eterno dos nossos corações.

Só com amor o mundo se transformará!

AHOOO!




fotos: http://www.iteia.org.br

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Carta da União Pan-Indígena


Nós, povos indígenas do mundo, unidos numa grande Assembléia de homens sábios, declaramos a todas as nações:

quando a terra-mãe era nosso alimento,
quando a noite escura formava nosso teto,
quando o céu e a lua eram nossos pais,
quando todos éramos irmãos e irmãs,
quando nossos caciques e anciãos eram grandes líderes,
quando a justiça dirigia a lei e a sua execução,

aí outras civilizações chegaram!

Com fome de sague, de ouro, de terra e de todas as suas riquezas,
trazendo numa mão a cruz e na outra a espada, sem conhecer ou querer
aprender os costumes de nossos, nos classificaram abaixo dos
animais, roubaram nossas terras e nos levaram para longe delas,
transformando em escravos os "filhos do sol".

Entretanto não puderam nos eliminar!
Nem nos fazer esquecer o que somos,
porque somos a cultura da terra e do céu,
somos de uma ascendência milenar e somos milhões,
e mesmo que nosso universo inteiro seja destruído,
NÓS VIVEREMOS
por mais tempo que o império da morte!

Fonte:
24° ENCA - Ano 2000 - Encontro de Comunidades Alternativas
ABRASCA - Associação Brasileira de Comunidades Alternativas
TABA Pindorama - Sana - RJ - Brasil

Fonte da imagem:
http://www.fabiocampana.com.br/wp-content/uploads/2008/06/indios-fmcamgovbr.jpg