terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A hipermassificação da cultura


Trecho retirado do artigo "O Desejo asfixiado" por Bernard Stiegler da revista Le Monde Diplomatique Brasil de Janeiro de 2010.

"Mas uma "consciência" também é essencialmente uma singularidade. Não posso dizer 'eu' porque 'eu' define meu próprio tempo. As indústrias culturais são enormes dispositivos de sincronização, em particular a televisão, máquinas de aniquilamento do 'eu' que o francês Michel Foucault estudou as técnicas no final da vida. Quando dezenas e centenas de milhões de espectadores assistem simultaneamente ao mesmo programa em transmissão direta, essas consciências do mundo inteiro interiorizam os mesmos objetos temporais. E, se, todos os dias elas repetem, à mesma hora, e com regularidade, o mesmo comportamento de consumo audiovisual, fazendo crescer cada dia mais, acabam por transforma-se numa mesma pessoa - ou seja, ninguém. O inconsciente do rebanho dispara uma pulsão profunda que não mais libera os desejos individuais instintivos - porque isso implicaria numa singularidade."