terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Admire

Nunca deixe de se maravilhar se quiser que os mistérios se desvendem para você. Os mistérios nunca se desvendam para aqueles que não param de questionar. Aqueles que questionam cedo ou tarde acabam numa biblioteca consultando as escrituras, porque as escrituras estão cheias de respostas. E as respostas são perigosas: elas podem destruir a sua admiração.

Elas são perigosas porque dão sensação de que você sabe, embora não saiba. Elas lhe dão a compreensão incorreta de que agora as perguntas estão solucionadas. "Eu sei o que a Bíblia diz, eu sei o que o Alcorão diz, eu sei o que o Gita diz. Eu consegui." Você vira um papagaio: repetirá as coisas, mas não saberá de nada. Não é esse o caminho para o saber - o conhecimento não é o caminho para o saber.

Então, qual é o caminho para o saber? A admiração. Deixe que o seu coração dance maravilhado. Encha-se de admiração: pulse com ela, inspire-a, expire-a. Por que ter tanta pressa para conseguir a resposta? Você não pode deixar que o mistério continue sendo um mistério? Eu sei que é grande a tentação para não deixar que ele continue sendo um mistério, para reduzi-lo a um conhecimento. Por que existe essa tentação? Porque, quando você se encontra repleto de conhecimento, está no controle.

O mistério controlará você, o conhecimento o deixará no controle. O mistério o possuirá. Você não pode possuir o mistério: ele é vasto demais e as suas mãos são muito pequenas. Ele é tão infinito que você não pode possuí-lo. Tem que ser possuído por ele - e esse é o seu medo. Você pode possuir e controlar o conhecimento, ele é tão trivial...

Trecho retirado do livro "Faça o seu coração vibrar" - Osho


quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A fábula-mito do cuidado

"Certo dia, ao atravessar um rio, Cuidado viu um pedaço de barro. Logo teve uma ideia inspirada. Tomou um pouco do barro e começou a dar-lhe forma. Enquanto contemplava o que havia feito, apareceu Júpiter.

Cuidado pediu-lhe que soprasse espírito nele. O que Júpiter fez de bom grado.

Quando, porém, Cuidado quis dar um nome à criatura que havia moldado, Júpiter o proibiu. Exigiu que fosse imposto o seu nome.

Enquanto Júpiter e o Cuidado discutiam, surgiu, de repente, a Terra. Quis também ela conferir o seu nome a criatura, pois fora feita de barro, material do corpo da Terra. Originou-se então uma discussão generalizada.

De comum acordo pediram a Saturno que funcionasse como árbitro. Este tomou a seguinte decisão que pareceu justa:

"Você, Júpiter, deu-lhe o espírito; receberá, pois, de volta este espírito por ocasião da morte dessa criatura.

Você, Terra, deu-lhe o corpo; receberá, portanto, também de volta o seu corpo quando essa criatura morrer.

Mas como você, Cuidado, foi quem, por primeiro, moldou a criatura, ficará sob seus cuidados enquanto ela viver.

E uma vez que entre vocês há acalorada discussão acerca do nome, decido eu: está criatura será chamada Homem, isto é, feita de húmus, que significa terra fértil".


Trecho retirado do livro Saber Cuidar de Leonardo Boff.


sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Leonardo Boff

O bom velhinho existe e colocou de forma graciosa no ar, suas sabias palavras, no auditório da UFRJ. Tantos livros, palavras e idéias reunidos em uma pessoa só. Tanto conhecimento e humildade. Realmente um prazer e uma honra ouvir pessoas como ele (de fato escutar de forma sincera sempre é bom).

Um momento ficou guardado na minha cabeça. Leonardo Boff falou da necessária mudança de paradigma que precisamos tomar (e que já está ocorrendo!). Ele falou sobre um exemplo contado numa aula pelo professor Heisenberg (pai da física quântica) que marcou ele e em cima desses pensamentos precisa ser fundado o novo paradigma. O Prof. Heisenberg comentou que naquela mesa de madeira a sua frente, 1cm2 de sua matéria transformada em energia pura seria capaz de abalar o nosso sistema solar inteiro. Qual seria o impacto dessa informação para a ética de uma nova humanidade? A ciência acelera sua corrida cada vez mais, precisamos acelerar o processo de construção de uma nova ética, um novo paradigma, para que a nossa grande mãe Terra que nos abriga com tanta abundância possa nos ver como um ser querido!

Sobre os caminhos de um novo paradigma Leonardo Boff escreve no seu livro Saber Cuidar. "...as respostas vêm sendo formuladas concretamente pelo conjunto das pessoas que ensaiam práticas significativas em todos os lugares e em todas as situações do mundo atual. Portanto, não há um sujeito histórico único. Muitos são os sujeitos destas mudanças. Elas se orientam por um novo sentido de viver e de atuar. Por uma nova percepção da realidade e por uma nova experiência do Ser. Elas emergem de um caminho coletivo que se faz caminhando."

Bem fica a reflexão dos caminhos da nossa humanidade...

Um pouco das idéias do Boff em video (Para conhece-lo melhor vale a leitura de um de seus livros)

domingo, 8 de agosto de 2010

Ócio Criativo


Trecho de um livro que estou lendo, "Ócio Criativo" do autor Domenico de Masi, nesse trecho o de Masi compara o Ócio Criativo, novo paradigma numa nova sociedade que ele situa como pos-industrial, à uma situação do pensamento Zen.

"Há um pensamento Zen que expressa com perfeição essa forma de vida, tanto no seu aspecto prático como no seu estado de espírito: "Aquele que é mestre na arte de viver faz pouca distinção entre o seu trabalho e o seu tempo livre, entre sua mente e o seu corpo, entre a sua educação e a sua recreação, entre seu amor e sua religião. Distingue uma coisa da outra com dificuldade. Almeja, simplesmente, a excelência em qualquer coisa que faça, deixando aos demais a tarefa de decidir se está trabalhando ou se divertindo. Ele acredita que está sempre fazendo as duas coisas ao mesmo tempo.""

Sempre é bom ler novas idéias. De Masi para mim está sendo um novo mundo. Sem dúvida não compartilho de muitas de suas idéias mas gosto do seu otimismo e sua idéia do Ócio Criativo.

Foto: Navarro vilarejo onde o autor organiza um festival anual.

domingo, 13 de junho de 2010

Consciência e abundância

Consciência e abundância | Com Paulo Roberto da Silva

por Fernanda Bellei

Ode a vida simples - Paulo Roberto da Silva fechou o módulo Desafio da sustentabilidade na CPFL Cultura em Campinas com a palestra “Consciência e abundância”.

O professor universitário e doutor em ciências contábeis Paulo Roberto da Silva poderia ser mais um profissional obcecado com os números, os lucros e o acúmulo de bens, mas sua trajetória o levou para um caminho muito mais simples: ele está envolvido no movimento da simplicidade voluntária, que sugere uma mudança básica na maneira com que vivemos: viver com menos – “menos expectativa, menos perfeccionismo, menos sapatos, menos roupas, menos consumismo, menos desperdício”, explica Paulo.

Paulo garante que viver com menos é ter mais tempo livro para o que realmente interessa. Carioca, ele vive em uma área de proteção ambiental no alto do Rio de Janeiro, onde, rodeado de árvores e animais silvestres, pode admirar a cidade de longe. Além de simplificar sua vida, Paulo ainda contribui com a conservação ambiental: ele mudou seu padrão de consumo e optou por uma alimentação natural. Entre suas propostas para uma mudança no padrão de consumo está a EBA – Economia Baseada na Abundância, que estimula a transformação de nossos comportamentos cotidianos em favor da sustentabilidade socioambiental. A proposta vem de encontro com a economia vigente, que trabalha com a lógica da escassez, isto é, quanto mais escassos os produtos, mais valorizados eles ficam. Na entrevista a seguir, ele explica sua visão e proposta para um novo sistema de produção e consumo.

Como o modelo de nossa economia influencia a qualidade de meio ambiente?
Todo o movimento de nossa economia, independente de ser capitalista ou socialista, está baseada no sistema da escassez, então, implicitamente, ela só vai crescer e gerar os resultados a que se propõe se a escassez aumentar. Mas o principio da natureza é a abundância: você tem água de graça, ar de graça, camada de ozônio de graça, etc. Se você tem um modelo baseado na escassez, ele conflita com o principio da natureza. Na medida em que nós todos nos envolvemos com a teoria econômica, conhecendo ou não a economia, estamos sendo automaticamente adversários da natureza. O modelo econômico nos estimula a destruir a fonte de abundância. Na minha opinião, o conceito de desenvolvimento econômico sustentável é uma contradição, porque para fazer crescer a economia tem que diminuir a abundância.

O conceito de crescimento sustentável da economia segue os mesmo princípios que você considera ideais?
O crescimento da economia esta sendo cada vez mais criticado, pois ele implica em mais consumo dos recursos do meio ambiente, o que gera problemas ambientais e sociais, porque se você diminui os acessos das pessoas aos recursos, eles vão tentar conseguir ter esse acesso por outros meios, mesmo que eles sejam fora da lei. Se você gera conflito entre excluídos e incluídos, você esta gerando um problema social. Portanto, um problema ambiental é também um problema social, é impossível separar essas duas coisas. Agora, é possível levar este conceito de desenvolvimento sustentável não necessariamente para o lado de crescimento econômico. Não precisamos mais crescer, podemos ter um sistema econômico que forneça o necessário para as pessoas não passarem privação.

Como poderíamos conceber um planeta que não cresce, chegar ao ideal de crescimento econômico zero, se a população mundial não pára de crescer?
Eu não tenho a resposta definitiva para isso, mas acho que existem alguns indícios aos quais devemos começar a prestar atenção. Primeiro, acho que nem o crescimento zero deve ser o objetivo, mas sim apenas o crescimento que for necessário ou o decréscimo. Precisamos nos preocupar em atender as necessidades das pessoas, porque uma necessidade sem uma previsão razoável de atendimento é uma fragilidade do tecido social. Se a gente olhar o mundo hoje, veremos muito mais pessoas passando privação, então se formos atender a todas essas pessoas, acaba o planeta. Essa é uma conclusão complicada! Mas sabemos também que 70% dos recursos do planeta atendem apenas a 20% da população. Então o que esta acontecendo? Esses 20% estão consumindo muito mais do que realmente precisam. Acho que estes 70% de recursos podem diminuir muito, eu suspeito que este número alto seja desnecessário para a vida dessas pessoas. Acredito que se este numero for redistribuído, talvez sobrem recursos para atender a essas pessoas que passam privação e talvez até dê para poupar o meio ambiente. Em seu livro Conexões Ocultas, de 2002, o físico Fritjof Capra, ele avalia que o nível de desperdício dos recursos produzidos pela sociedade é de 70%.

O que mais podemos fazer, enquanto sociedade, para chegar a esse ideal?
Eu acho que o ponto básico de todas as sociedades é a questão do poder. Devemos começar por aí. Esta é a grande limitação da proposta que estamos desenvolvendo: como viver o mundo sem concentração de poder? Nos não percebemos com clareza que todos os nossos processos são concentradores de poder. Este é o grande nó que devemos desatar e acho que a saída para isso é o autoconhecimento. Eu suspeito que o autoconhecimento nos leva para a filosofia e a viver uma vida baseada nas virtudes, aí nosso novo modelo econômico vai começar a surgir naturalmente. Por enquanto nossa vista está impregnada com este sistema de concentração de poder.

O que é o EBA e como ele pode ser empregado?
O EBA é a sigla para Economia Baseada na Abundância. Não tenho certeza se podemos, com base nessa proposta, criar um novo modelo para a existência. Acho que ainda estamos em um estágio de transição onde ainda não temos condição de ver como teremos um estilo de vida diferente. Algumas pessoas já estão muito próximas desse modelo: são aquelas que vivem em eco vilas ou que trabalham em organizações solidárias. Elas vivem um estilo de vida que concentra pouco poder e que proporciona auto-suficiência. Quanto mais independentes, menos elas precisam das coisas de fora e, conseqüentemente, contribuem menos para a concentração de poder.

Estamos assistindo a uma crise econômica mundial que está sendo agravada pela diminuição dos níveis de consumo. Governantes de todo o mundo estão incentivando o aumento do consumo para a economia se reerguer. Seria possível driblar esta crise de outra maneira, sem atender a esses apelos?
Estamos vendo que a base de nossa economia está toda corroída e está tentando desesperadamente se manter. Algumas pessoas que têm carro já estão optando por não ter mais. Às vezes me perguntam se é possível mudar o consumismo dos americanos, por exemplo, que é o símbolo do exagero, pois bem, uma pesquisa realizada nos Estados Unidos mostra que 27% da população americana está envolvida com o movimento da simplicidade voluntária. Estamos tendo uma grande oportunidade agora, depois de uma história de insucessos, podemos nos perguntar se queremos viver de modo diferente. Acredito que devemos começar pela menor variável, que somos nós mesmos, e depois influenciar uma mudança maior.

Paulo Roberto da Silva é graduado (UFRJ), mestre (FGV-RJ) e doutor (USP) em contabilidade. Atua como professor na Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Turismo da Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ. Participou da publicação livros e artigos técnicos em finanças, mas atualmente se dedica integralmente à divulgação da sua mais recente obra intitulada Consciência e Abundância. Trocou a atividade em empresas pela acadêmica em 1987 para intensificar a vivência do ócio criativo. Sua inata inclinação para a simplicidade voluntária contribuiu sobremaneira para o sucesso dessa experiência.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Um pouco de conhecimento


"DESTRALHE-SE".
Texto: Carlos Solano

-"-Bom dia, como tá a alegria"? Diz dona Francisca, minha faxineira rezadeira, que acaba de chegar.
- "Antes de dar uma benzida na casa, deixa eu te dar um abraço que preste!" e ela me apertou.
Na matemática de dona Francisca, "quatro abraços por dia dão para sobreviver; oito ajudam a nos manter vivos; 12 fazem a vida prosperar".
Falando nisso, "vida nenhuma prospera se estiver pesada e intoxicada".
Já ouviu falar em toxinas da casa? Pois são:
- objetos que você não usa,
- roupas que você não gosta ou não usa há um ano,
- coisas feias,
- coisas quebradas, lascadas ou rachadas,
- velhas cartas, bilhetes,
- plantas mortas ou doentes,
- recibos/jornais/revistas, antigos,
- remédios vencidos,
- meias velhas, furadas,
- sapatos estragados...

Ufa, que peso! "O que está fora está dentro e isso afeta a saúde", aprendi com dona Francisca. "Saúde é o que interessa. O resto não tem pressa!", ela diz, enquanto me ajuda a 'destralhar', ou liberar as tralhas da casa... O 'destralhamento' é a forma mais rápidas de transformar a vida e ajuda as outras eventuais terapias. Com o destralhamento:
- A saúde melhora;
- A criatividade cresce;
- Os relacionamentos se aprimoram...

É comum se sentir cansado, deprimido, desanimado, em um ambiente cheio de entulho, pois "existem fios invisíveis que nos ligam à tudo aquilo que possuímos".
Outros possíveis efeitos do "acúmulo e da bagunça":
- sentir-se desorganizado;
- fracassado;
- limitado;
- aumento de peso;
- apegado ao passado...

No porão e no sótão, as tralhas viram sobrecarga;
Na entrada, restringem o fluxo da vida;
Empilhadas no chão, nos puxam para baixo;Acima de nós, são dores de cabeça;
"Sob a cama, poluem o sono".
"Oito horas, para trabalhar;Oito horas, para descansar; Oito horas, para se cuidar."

Perguntinhas úteis na hora de destralhar-se:
- Por que estou guardando isso?
- Será que tem a ver comigo hoje?
- O que vou sentir ao liberar isto?

...e vá fazendo pilhas separadas...
- Para doar!
- Para jogar fora!

Para destralhar mais:
- livre-se de barulhos,
- das luzes fortes,
- das cores berrantes,
- dos odores químicos,
- dos revestimentos sintéticos...

e também...
- libere mágoas,
- pare de fumar,
- diminua o uso da carne,
- termine projetos inacabados.

"Se deixas sair o que está em ti, o que deixas sair te salvará.. Se não deixas sair o que está em ti, o que não deixas sair te destruirá", Arremata o mestre Jesus, no evangelho de Tomé.
"Acumular nos dá a sensação de permanência, apesar de a vida ser impermanente", diz a sabedoria oriental. O Ocidente resiste a essa idéia e, assim, perde contato com o sagrado instante presente.

Dona Francisca me conta que "as frutas nascem azedas e no pé, vão ficando docinhas com o tempo".. a gente deveria de ser assim, ela diz:
"Destralhar ajuda a adocicar."

Se os sábios concordam, quem sou eu para discordar...
“Dê a quem você ama: asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar ”
*Dalai Lama*

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Novo mestre e seus ensinamentos

Devagarzinho vou aprendendo a ama-lo, assim como vou aprendendo amar mais minha familía, minha namorada, meus amigos, as pessoas ao meu redor, os animais, nosso planeta.

Gratidão por todos momentos presentes que seus ensinamentos trouxeram a mim em tão pouco tempo.

Sem mudança interior será que podemos mudar o exterior?





"A generosidade é uma qualidade do espírito.
Quando você se torna generoso a sua Vida se torna abundante.
A riqueza de uma pessoa é medida pelo que ela compartilha
e não pelo que acumula." Sri Sri Ravi Shankar

JAI GURUDEV

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Até Quando o Tudo?

As vezes é pouco
louco
quase nada

Crescer crescer
Ouço falar
Descrente
Não posso mais

Vou decrescer
vou me miminizar
até quase desaparecer
sem glória
sem Roma
sem nada
apenas acompanhado
de tudo

sábado, 27 de fevereiro de 2010

A Sociedade Mundial da Cegueira

Leonardo Boff *

O poeta Affonso Romano de Sant'Ana e o prêmio Nobel de literatura, o português José Saramago, fizeram da cegueira tema para críticas severas à sociedade atual, assentada sobre uma visão reducionista da realidade. Mostraram que há muitos presumidos videntes que são cegos e poucos cegos que são videntes.

Hoje propala-se pomposamente que vivemos sob a sociedade do conhecimento, uma espécie de nova era das luzes. Efetivamente assim é. Conhecemos cada vez mais sobre cada vez menos. O conhecimento especializado colonizou todas as áreas do saber. O saber de um ano é maior que todo saber acumulado dos últimos 40 mil anos. Se por um lado isso traz inegáveis benefícios, por outro, nos faz ignorantes sobre tantas dimensões, colocando-nos escamas sobre os olhos e assim impedindo-nos de ver a totalidade.O que está em jogo hoje é a totalidade do destino humano e o futuro da biosfera. Objetivamente estamos pavimentando uma estrada que nos poderá conduzir ao abismo. Por que este fato brutal não está sendo visto pela maioria dos especialistas nem dos chefes de Estado nem da grande mídia que pretende projetar os cenários possíveis do futuro? Simplesmente porque, majoritariamente, se encontram enclausurados em seus saberes específicos nos quais são muito competentes mas que, por isso mesmo, se fazem cegos para os gritantes problemas globais.

Quais dos grandes centros de análise mundial dos anos 60 previram a mudança climática dos anos 90? Que analistas econômicos com prêmio Nobel, anteviram a crise econômico-financeira que devastou os países centrais em 2008? Todos eram eminentes especialistas no seu campo limitado, mas idiotizados nas questões fundamentais. Geralmente é assim: só vemos o que entendemos. Como os especialistas entendem apenas a mínima parte que estudam, acabam vendo apenas esta mínima parte, ficando cegos para o todo. Mudar este tipo de saber cartesiano desmontaria hábitos científicos consagrados e toda uma visão de mundo.

É ilusória a independência dos territórios da física, da química, da biologia, da mecânica quântica e de outros. Todos os territórios e seus saberes são interdependentes, uma função do todo. Desta percepção nasceu a ciência do sistema Terra. Dela se derivou a teoria Gaia que não é tema da New Age; mas, resultado de minuciosa observação científica. Ela oferece a base para políticas globais de controle do aquecimento da Terra que, para sobreviver, tende a reduzir a biosfera e até o número dos organismos vivos, não excluídos os seres humanos.

Emblemática foi a COP-15 sobre as mudanças climáticas em Copenhague. Como a maioria na nossa cultura é refém do vezo da atomização dos saberes, o que predominou nos discursos dos chefes de Estado eram interesses parciais: taxas de carbono, níveis de aquecimento, cotas de investimento e outros dados parciais. A questão central era outra: que destino queremos para a totalidade que é a nossa Casa Comum? Que podemos fazer coletivamente para garantir as condições necessárias para Gaia continuar habitável por nós e por outros seres vivos?

Esses são problemas globais que transcendem nosso paradigma de conhecimento especializado. A vida não cabe numa fórmula, nem o cuidado numa equação de cálculo. Para captar esse todo precisa-se de uma leitura sistêmica junto com a razão cordial e compassiva, pois é esta razão que nos move à ação.

Temos que desenvolver urgentemente a capacidade de somar, de interagir, de religar, de repensar, de refazer o que foi desfeito e de inovar. Esse desafio se dirige a todos os especialistas para que se convençam de que a parte sem o todo não é parte. Da articulação de todos estes cacos de saber, redesenharemos o painel global da realidade a ser compreendida, amada e cuidada. Essa totalidade é o conteúdo principal da consciência planetária, esta sim, a era da luz maior que nos liberta da cegueira que nos aflige.

* Teólogo, filósofo e escritor

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Virá!


Um Índio
Doces Barbaros

Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante
De uma estrela que virá numa velocidade estonteante

E pousará no coração do hemisfério sul, na América, num claroinstante

Depois de exterminada a última nação indígena
E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida
Mais avançado que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias

Virá, impávido que nem Muhammed Ali, virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri, virá que eu vi
Tranqüilo e infalível como Bruce Lee, virá que eu vi
O axé do afoxé, filhos de Ghandi, virá

Um índio preservado em pleno corpo físico
Em todo sólido, todo gás e todo líquido
Em átomos, palavras, alma, cor, em gesto e cheiro
Em sombra, em luz, em som magnífico

Num ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico
Do objeto, sim, resplandecente descerá o índio
E as coisas que eu sei que ele dirá, fará, não sei dizer
Assim, de um modo explícito

Virá, impávido que nem Muhammed Ali, virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri, virá que eu vi
Tranqüilo e infalível como Bruce Lee, virá que eu vi
O axé do afoxé, filhos de Ghandi, virá

E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos, não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio


Video do show => http://www.youtube.com/watch?v=N8hpK0lq5gk